Restaurante 118

Depois de alguns acidentes de percurso, aquele restaurante finalmente tomou rumo. É pequeno, sem pretensões e serve comida portuguesa de comer e chorar por mais. Mas se julgam que o sem pretensões é meia bola e força, desenganem-​se porque há pequeníssimos requintes que fazem a diferença. Já lá tinha comido um prego em bolo de caco, umas sardinhas assadas como manda o regulamento e hoje, hoje, com o céu a despejar água e o meu estômago a pedir comida, o 118 abriu-​me as portas e várias possibilidades de matar a fome. Hesitei entre uma feijoada de chocos e umas pataniscas com arroz de tomate e salada. Ganhou o bom senso e escolhi as pataniscas. Com uma tarde daquelas onde ia eu queimar as calorias do feijão e dos chocos? Arroz malandro no ponto — daquele que, de acordo com os manuais, leva 3 medidas de água para uma de arroz, caso contrário afoga-​se!- as pataniscas saborosas e estaladiças sem vestigios de gordura, uma salada a preceito e um vinho tinto da casa de que pude beber apenas um copo. Ficaram em suspenso a feijoada de chocos e outras delícias que lá vi anunciadas. Acresce que, não sendo grande, o ambiente é agradável e não é barulhento. As pessoas que lá trabalham atentas e simpáticas. Sítio para voltar repetidas vezes.

Já foi um restaurante indiano e depois transformou-​se num restaurante indiano e italiano. Não era mau e até entregavam em casa (uma vez encomendei o jantar pelo telefone e acabei a chamada com um «adeus, beijinhos» sem querer), mas parece que a adesão não foi grande e os senhores acabaram por fechar e ir embora do bairro sem beijinhos. Passado algum tempo, abriu o 118 e parece que tem sido mais bem sucedido que o antecessor.
Parece impossível, mas é verdade: um bairro típico lisboeta e fazia falta um sítio onde se pudesse comer umas bifanas e uns caracóis! Tem um ar um pouco mais cuidado que uma típica tasca lisboeta, sem aquelas lâmpadas que electrocutam moscas de dois em dois minutos e calendários do Benfica, mas é super descontraído e bom para juntar um grupo de amigos para uma petiscada.
Para os amantes solitários de caracóis, como eu, há umas doses pequeninas, acompanhadas de um cestinho de pão e broa (isso, mimem-​me). Também se pode jantar por um preço muito simpático.
Nem é preciso dizer que vou voltar. Enquanto houver caracóis, vão ter-​me à perna.

Nesta tasca, com «T» grande, pode-​se apreciar todos aqueles petiscos portugueses que toda a gente gosta: peixinhos da horta, croquetes, pataniscas, saladas de polvo, orelha ou grão com bacalhau. O Restaurante 118 faz arte na preparação destas iguarias. O espaço interior é forrado a azulejo bem ao estilo português e faz da casa um local bastante acolhedor, à portuguesa, claro. Mas aqui também se servem menus do dia e o meu foi a alheira acompanhada com arrozinho de grelos. Huumm… Fantástico pelo sabor, pelo preço (8 €), pelo espaço e pela simpatia com que fui brindado.
P.S: É obrigatório dar cá um salto!