Perve

A Perve é um pequeno mundo escondido nas ruinhas de Alfama. Numa zona em há tantos espaços devolutos é quase um milagre encontrar um espaço assim. Digo isto não só pelas exposições que acolhe — neste aspecto não é das minhas principais escolhas — mas pelo local. A dinâmica que cria e as formas como pode ser utilizado pelos artistas que lá expõe é muito interessante, tendo até um pequeno espaço exterior adorável. À galeria junta-​se um pequeno bar que dá apoio às inaugurações.

O surrealismo em Alfama! Adoro a Perve e o contraste das suas obras com as ruas estreitinhas cá fora. Ou contraste nenhum afinal. O surrealismo anda sem dúvida pelas ruas de Alfama mas é na Perve que encontra um espaço dedicado aos artistas do género. A galeria em si é linda de visitar. Tem um pátio interior magnífico. Eu que cá moro confesso que só entrei aquando em trabalho fiz uma reportagem sobre o cruzamento de surrealistas: a arte dos desenhos de Cruzeiro Seixas, de Alfredo Luz e das esculturas deJorge Pé Curto nesta que é uma homenagem a três Mários falecidos: Botas, Cesariny e Sá Carneiro. A grandiosidade desta exposição acompanha as outras, com uma agenda cheia a Perve também recebe alguns eventos. Recomendo estarem atentos à agenda ou apenas passarem numa rua mesmo estretinha para entrarem num mundo grande! A porta está sempre aberta!

A Perve é um daqueles sítios que quase nos parece injusto que passé tão despercebido. Afinal de contas, não é todos os dias que podemos ver arte moderna em Alfama, principalmente com esta qualidade. Artistas estrangeiros como Picasso ou Alfredo Benavidez Bedoya, e portugueses como Cruzeiro Seixas ou Carlos Zíngaro são apenas alguns dos nomes que por aqui já passaram nos 13 anos de existência da Perve. É uma galeria e por isso também vende, claro, mas apenas objectos exclusivos na forma de livros, serigrafias e joalharia.
O espaço, inserido num edifício do séc. XVII, é pequeno e acolhedor, e o percurso estreito, quase labiríntico, da galeria transmite-​nos uma sensação de proximidade com as obras expostas. Mesmo ao lado há a Casa da Liberdade — Mário Cesariny, um projecto desenvolvido pelo colectivo que dirige a Perve, onde se reúné o espólio artístico e documental do artista que lhe dá nome. É, sem dúvida alguma, um dos espaços de referência em Lisboa para a arte moderna e contemporânea e vale a pena estar atento às suas novidades.