Museu do Traje

No ano passado conheci a horta que existia nos terrenos do Museu do Traje, e que está dividida em talhões que são cultivados por cidadãos «normais», que a eles se podem candidatar todo os anos, pagando um pequeno valor por eles.
Participei lá numa sessão de horticultura dedicada a culturas de Outono/​Inverno, em modo de produção biológica, com uma parte teórica e uma parte prática, em que metemos mãos à obra e aprendemos a semear nabos e outros vegetais. Quem nunca fez ou só ajudou a fazer, sabe que há muitos conhecimentos e técnicas que se deve adquirir e praticar para ter bons resultados.
A parte prática desta sessão foi na dita horta, em que várias pessoas plantam e cuidam dos seus talhões como entenderem, desde que os mantenham em boas condições. No dia da sessão havia lá várias pessoas a cuidarem dos seus talhões, umas mais experientes que outras, mas todos com o prazer de cultivarem os seus frutos e vegetais e vê-​los crescer.

Este museu tem um espólio fantástico e tem quanto mim a particularidade de poder ser apreciado por pessoas de faixas etárias completamente diferentes e com graus diversos de entendimento da nossa História; é possível gostar-​se mesmo que se fique pelo dado mais superficial dos trajes em si, assim como se pode partir do traje para um aprofundamento da realidade da época em que os trajes foram usados.
Mas para lá do museu, aqui é também importantíssimo o «à volta»… É um dos casos nos quais a moldura vale tanto como o quadro. Estamos no campo sem estar; não sei se no seu tempo o Monteiro Mor usufruiu deste espaço mas eu, que ao contrário dele vivo rodeada de prédios, acho lindos aquelas árvores e a possibilidade de evasão que elas nos dão.

O museu Nacional do Traje, em ligação com o Museu Nacional do Teatro partilham, para mim, do melhor e maior jardim da cidade de Lisboa. O Parque Monteiro-​Mor é um espaço incrível em que conseguimos, dentro da cidade, e numa zona mais do que urbana, ter a sensação visual de olhar em redor e não vermos um único prédio. Isso acontece em pleno relvado, rodeados de uma vegetação bem variada.
Embora nos últimos tempos tenha notado que existe menos cuidado com todos os recantos, este jardim constitui um sítio único, para passear, relaxar, ler um livro ou fazer um picnic.
Dentro da cidade, fora dos caixotes (prédios)! Tive uma professora de desenho, que no secundário nos levava a desenhar os edifícios dos museus e o jardim…
Há a vantagem de apesar de pertencer aos Museus ter entrada directa e separada em termos de preços (se bem que na primeira vez é obrigatório visitá-​los, pois valem mesmo a pena e são muito pouco valorizados em relação ao espólio que apresentam).
Existe possibilidade, de no restaurante do Museu do Traje se fazerem baptizados ou casamentos, e acredito que se lá o fizerem, deve parecer uma história encantada, tal a paisagem que aquilo oferece.

Ali para os lados do Lumiar, fica o museu da minha predilecção, o museu da minha infância. Tudo começou quando D. João VI foge para o Brasil. A primeira colecção era, quase na totalidade, composta por trajes, acessórios e, imagine-​se, até roupa interior que pertenciam à Casa Real. Desde o século dezassete até aos nossos dias, o espólio tem aumentado substancialmente, através de doações e, algumas aquisições. As peças estão recuperadas e apresentam-​se exactamente como eram à data da sua confecção. Para além do vestuário e respectivos acessórios ainda se encontram em exposição, mantas, rendas, bordados, peças de ourivesaria, mobiliário, etc. noventa por cento português. Um regalo para os olhos e uma experiência inesquecível. É preciso voltar mais vezes. Há sempre qualquer coisa que nos escapa.