Ervanária Rosil

Nasci e cresci dentro da ervanária da minha mãe na altura em Portimão. Quis o destino que me formasse em farmácia mas nunca perdi o interesse pela vertente mais natural do medicamento. No primeiro ano de faculdade, na cadeira de botânica realizei um inquérito e propus-​me a visitar várias ervanárias em Lisboa. Não pude deixar de visitar a Rosil pela sua história e por ser uma fonte de inspiração nos tempos que correm. A verdade é que quem gosta de produtos naturais vai sempre procura-​los e quem é tradicional lisboeta deverá marcar sempre presença na Rosil. Quantas vezes não fui lá buscar coisas que a minha mãe pediu porque, segundo ela… «isso só há lá na ervanária de Lisboa. Aqui não se arranja!!». A simpatia dos funcionários é desmedida e só lá oiço expressões que na medicina convencional já não se usam mas que são uma delícia para os meus ouvidos. Coisas como «xarope de pau de arco», «chá quebra pedras» ou erva de são roberto” lembram-​me a minha infância e no fim de tudo… isso é bom!

A ervanária Rosil tem duas lojas na mesma rua, uma quase em frente à outra. Há anos que sou cliente das ervas avulso para chá (esqueçam lá os pacotinhos) e nunca entrei numa das lojas, vou sempre à mesma porque tinha a ideia que na outra se vendiam só os chamados «produtos dietéticos». Na última vez que lá fui comprar folhas de freixo perguntei ao senhor Adel sobre a outra loja e ele disse-​me que vende exactamente o mesmo, sem tirar nem pôr. Então «porque não fecham a loja minúscula?» (onde eu vou), perguntei eu. A história do «porque não» é a que se segue. Em 1950 abriu a loja mais pequena, um quase vão de escada sem espaço para muito. Com a clientela a aumentar, abriu no início de 1980 a outra loja, no entanto, havia público fiel que não quis deixar de ser atendido na loja pequena e que nunca, como eu, põe os pés na outra loja. E o contrário também existe, público que só vai à outra loja. Além disso, a loja mais pequena, paradoxalmente, serve de armazém, pois não é húmida como a outra que está encostada à colina do Castelo. Assim, a Rosil continua com as duas lojas a atender públicos diferentes mas todos fiéis à sua enorme variedade de plantas e produtos derivados.

Quem já entrou numa ervanária de certeza que adora o típico cheiro das várias folhas para chá existentes. Na Rosil, uma das casas mais típicas da Baixa, o aroma é ainda mais forte, tal a variedade de chás disponíveis. Com a marca da casa existem chás para o colesterol, para emagrecimento, para inflamações, para irritações cutâneas, entre dezenas de outros. O mais engraçado é pedir uma pequena quantidade variada que os simpáticos empregados retiram dos depósitos em madeira com uma colher própria e colocam nos sacos de papel para depois pesarem. Um comércio à moda antiga já pouco visto na cidade.