Chinês Clandestino

A 1.ª vez que aqui fui gostei imenso, a 2.ª gostei, a 3.ª gostei um bocadinho menos e por ai fora. Sou sincera, hoje em dia vou lá para desenrascar jantar, mas é daqueles sítios que não convém ir muito para não se reparar nos pormenores. Sei que aqui estamos praticamente numa casa de habitação e que os preços são bastante acessíveis, mas quem gosta de jantar num sitio em que as pessoas saem da cozinha a fumar, ou saem da casa de banho com uma toalha numa mão e a escova de dentes na outra? Tem uns pratos curiosos, lembro-​me que da 1.ª vez gostei imenso do caranguejo assado e nunca mais voltei a gostar da mesma maneira, o que aconteceu com vários pratos, não digo que estivessem diferentes, os pormenores é que estragaram tudo. Mas acho uma experiência interessante, eu e centenas de pessoas, pois está sempre cheio e chega mesmo a ter uma fila enorme na porta, o que dá para evitar, pois aceitam reservas, incrível! Mas aconselho toda a gente a ir, nem que seja uma vez. Ir e provar a sopa de milho que ainda gosto tanto como da 1.ª vez.

É um pouco fajuto avaliar um estabelecimento clandestino num guia online, mas cá vai; sou fiel cliente deste restaurante clandestino há alguns anos. Não é o melhor, mas é muito económico e, embora as condições sejam humildes o ambiente relaxado e as refeições bem servidas ajudam.

Este espaço tal como o seu nome diz, é tudo menos um restaurante chinês tradicional. Localiza-​se no Largo da Severa, no eixo Mouraria/​Martim-​Moniz, pertinho da casa de fado do Camané (Casa da Severa), num edifício comum. Meia Lisboa conhece. Uns vão levando outros e quem pretender esta experiência gastronómica alternativa só tem de aparecer porque — que se saiba — não aceitam reservas… Não fosse o facto de me encontrar entre amigos conhecedores da casa, não me teria aventurado a levar adiante o primeiro trecho das escadas, porque a sensação que tive à chegada foi de invadir o lar de uma família: é que de restaurante não se via muito. Depois de sentada a uma mesa de madeira e com o folheto de opções de ementa (algo limitada) disponível para fazer o pedido, acreditei que afinal sempre era verdade. Mas este «restaurante» com menos de meia dúzia de mesas (e uma maior «corrida» para grupos), tratando-​se da sala da casa, tem o grave contra (pelo menos para mim) de não servir crepes de entrada!; um segundo senão de referir são os guardanapos de papel; e ainda a reduzida oferta de opções para beber. A comida é boa mas não especialmente saborosa e a fruta da época pode ser o único garante de sobremesa. Por outro lado, o mito de ser barato não é mito porque a quantidade de comida é considerável face ao que se paga. E em termos de higiene confesso que evitei estar atenta em prol do sucesso da experiência cultural. Bom ou mau, o que é certo é que não falta quem lá vá, percebi que quando a afluência de «visitas» aumentou, essas pessoas foram encaminhadas para o andar de cima, por isso, deve haver ali «sempre» lugar para mais um.
A atribuição das 4 estrelas é porque acho que faz parte das experiências a ter em Lisboa (e, just in case, convém que seja antes da ASAE…) e de preferência com pessoas bem dispostas que se sintam realmente na disposição de experimentar o lugar.