Arquivo Nacional da Torre do Tombo

A Torre do Tombo além de um local de trabalho é uma espécie de Meca para muitos historiadores. Infelizmente, não vou lá tantas vezes como gostaria, pelo que quando vou é sempre uma alegria. A sala de leitura tem excelentes condições de trabalho e gosto do atendimento e serviço prestado pelos técnicos e arquivistas. Mas, o que me dá gozo mesmo é de ir observando a malta que está a analisar documentação antiga (o acervo documental recua à época medieval), completamente camuflada com óculos, máscaras e luvas, que servem para proteger os livros e os investigadores.
Apesar dos estudantes e investigadores constituírem a maioria dos visitantes do nosso Arquivo Nacional, a documentação pode também ser consultada por curiosos, que pretendam por exemplo explorar informação genealógica ou elementos referentes à história local. Para isso aconselho a efectuar um contacto prévio para ficar ao corrente dos procedimentos do arquivo. Para o público em geral a Torre do Tombo organiza ainda conferências, lançamentos de livros e exposições, nas quais podemos encontrar muitas vezes documentos raros de períodos, acontecimentos ou personagens que marcaram a nossa história.

Fui lá há cerca de 3 semanas atrás com um amigo que pretendia pedir os registos que a PIDE-​DGS tinha sobre o seu pai… Foi uma aventura quase surreal.
Ainda no caminho para lá, dizia-​me o meu amigo «Bem, não me vais dizer que eles não me sabem dizer se o meu pai está vivo ou morto não? Ao fim e ao cabo, são a Torre do Tombo, casa mãe de todos os arquivos…». Ainda mal tinha acabado de dizer estas palavras e já estava a preencher papeis. Sim, isto de sistemas informatizados parece ser coisa moderna demais para a nossa Torre do Tombo.
A saber, depois de esperarmos um pouco no andar de cima onde se trata desses pedidos, fomos atendidos por uma senhora que prontamente nos diz que, temos que preencher um formulário. Formulário esse que não existe em formato digital. E não, não quero com isso dizer que não está disponível na Internet. Quero dizer que existe em papel e não em ficheiro electrónico, que se possa imprimir. A senhora pega no dito formulário e vai tirar uma fotocopia. Depois de preenchido o dito formulário, a caneta azul, pergunta o meu colega: «Então e agora? Quanto tempo demora?». Duas a três semanas responde a senhora atrás do balcão. «Então e depois? Enviam-​me o resultado por e-​mail?». Nesta altura eu já não me aguentava a prender o riso e a senhora estranhava o porquê de me estar quase a enrolar sobre a barriga. O meu amigo em questão é a pessoa mais analogico-​fobica que conheço e tem como uma das missões de vida erradicar da face da Terra todos os equipamentos de fax. Já podem imaginar como estava ele…
«Não. Daqui a duas ou três semanas, o senhor envia-​nos um e-​mail a dizer que esteve por cá, há duas ou três semanas, e que fez este pedido. Diz que gostava de saber o ponto de situação. Depois nessa altura alguém irá verificar e dar-​lhe uma resposta. Se entretanto não receber resposta nenhuma, pode ligar para cá.». Como diria esse meu amigo, a sério Varatojo? O expoente máximo dos arquivos nacionais funciona assim?
Convenhamos, um esmero, uma simpatia tremenda, desde o segurança na entrada, à senhora que nos atendeu, ao jovem que nos serviu no bar (onde fomos depois desta cena para o meu amigo se recompor). Sem falhas, fenomenal. Mas, então e o serviço prestado? É assim que funciona?

A primeira vez que estive na Torre do Tombo foi por questões profissionais, mas há já muito tempo que tinha curiosidade em lá entrar. Não me desiludi muito… a entrada tinha, na altura, uma exposição interactiva e vários objectos históricos descansavam por várias áreas, dando-​se a observar prolongadamente. Findo este encontro introdutório, conheci o auditório, razão que lá me levava.
Apesar das dimensões simpáticas e boa disposição das cadeiras em anfiteatro, considerei-​o muito escuro. A ausência de iluminação natural determina que assim seja. E, depois, acho-​o algo antiquado. Nitidamente um espaço já com alguns anos.
Por conhecer está o arquivo que dispõe de documentos originais desde, imagine-​se, do século IX, alicerçados na nobre missão de preservação e perpetuação de registos. Um must go para historiadores e curiosos.